O Atlético fica de fora da decisão do Campeonato Brasileiro de 2001. O time, que precisava vencer, perde para o São Caetano por 2 a 1, de virada, em São Caetano do Sul. grande São Paulo. Foi o último jogo decisivo do clube comentado pelo cronista Roberto Drummond.
Quando um homem chora
-Pai- disse o menino atleticano de 11 anos, que se sentia um homem, vestindo uma camisa branca e preta, tentando conter o choro depois da vitória do São Caetano debaixo d'água.
- O que é, meu filho? - falou o pai, abraçado com uma bandeira atleticana, sentado num sofá diante a televisão.
-É verdade, pai, que homem que é homem não chora? - seguiu o menino e ficou de pé na sala.
-Bobagem, meu filho - e o pai tentou disfarçar o nó na garganta.-O homem de verdade chora até por causa de uma mulher.
- Você jura, pai?
- Juro, meu filho.
-E quando o Galo perde, pai, um homem chora?
-Chora, meu filho.
-Você já chorou por causa do Galo, pai? - insistiu o menino.
-Já meu filho.
-Chorou muitas vezes, pai?
-Muitas vezes, meu filho. Mas eu já cantei muitas vezes, meu filho. E vibrei e dancei na chuva. Por causa do Galo, meu filho, eu já chorei até de alegria.
-Chorar de alegria não vale, pai.
-É a mesma coisa, meu filho.
-Não é não, pai.
-Dá na mesma, meu filho.
-Quando eu era um menininho, eu chorava por qualquer coisa pai.
-Você ainda é menininho, filho.
-Eu sou um homem, pai. Lembra quando eu fiz 11 anos, pai?
-Lembro meu filho. Foi outro dia mesmo.
-Mas desde que eu fiz 11 anos pai, eu nunca mais chorei. Lembra quando eu fiquei apaixonado por minha professora de matemática, pai?
-Nunca vou me esquecer, filho. Você não falava em outra coisa.
-Naquela época, pai, eu chorava porque só tinha 10 anos. Mas, se fosse hoje, e minha professora de matemática ficasse noiva de outro, eu não ia chorar porque sou um homem.
-Eu entendo, meu filho.
-Mas agora, pai, eu sou um homem e não vou chorar porque eu sou um homem e eu não quero que nenhum garoto cruzeirense diga que me viu chorando porque o Galo perdeu pro São Caetano.
-Mas não tem nenhum menino cruzeirense aqui se você chorar, meu filho, ninguém vai saber.
-Deus vai saber, pai.
-Deus sabe tudo e vê tudo, meu filho.
-Pai -falou o menino com um nó na garganta e a ponto de cair em prantos -, Deus é atleticano, pai?
-Deus está muito ocupado, meu filho, com as guerras pra se preocupar com futebol.
-Eu pensava, pai, que Deus fosse atleticano. Uma vez, pai, eu fui numa missa, e o padre disse que Deus é atleticano.
-Deus torce por todos os times, porque não fica bem para Deus tomar um partido nem nas guerras nem no futebol. Se dependesse de Deus, meu filho, judeus e palestinos iam se abraçar como irmãos e acabar a matança no oriente Médio.
-Me abraça, pai - pediu o menino.
O pai abraçou o menino, enquanto os foguetes que os cruzeirenses soltavam para comemorar a derrota do Galo explodiam, e os carros fazendo buzinaço passavam na rua. Então, pai e filho começaram a chorar até o ponto que o menino atleticano chegou à janela do apartamento e gritou, abafando os foguetes e o buzinaço dos cruzeirenses.
- Gaaaaaaaalôôôôôô!
Texto retirado do livro "Uma paixão em preto e branco" de Roberto Drummond.