domingo, 2 de dezembro de 2012

Amor branco e preto

Texto publicado no jornal Estado de Minas, em 25 de março de 2002. Foi a última homenagem de Roberto Drummond ao Atlético, no dia do 94º aniversário de fundação do clube, menos de três meses antes da sua morte.



Não diga que eu sou branco.
Que eu sou negro.
Que eu sou amarelo.
Que eu sou vermelho.
Branca e preta é a minha pele, e o Atlético é o sonho meu.
Se eu procurar o amor, e disserem que o amor morreu.
Se tentar cantar e souber que a canção acabou.
Se for trabalhar, e falarem que eu não tenho mais trabalho.
Se eu procurar meu pai e informarem que meu pai morreu.
Se eu procurar pela mãe, e falarem: sua mãe morreu.
Se chamar pela moça amada, e for em vão minha procura.
Se sentir sede, e não houver mais água.
Se tudo for assim, mesmo sem uma canção, ainda assim cantarei e gritarei:
Galo.

O Atlético é como pai da gente.
É água na hora da sede.
É o obro amigo onde você pode desabafar suas mágoas.
Se me mandarem para uma ilha deserta, ainda assim eu não estarei só, porque o Atlético vai comigo.
Se eu for pra China.

Se for pra Cochinchina, Coréia ou Japão.
Em lugar algum, cercado de estrangeiros, eu não me sentirei só porque o Atlético vai comigo.
O Atlético me ensinou a amar o mundo.
Viva o Campeão do Gelo.
Via o Atlético de todos os times.
Viva o time de Kafunga, Murilo e Ramos (depois Osvaldo), viva o grande Mexicano, um viva para o Zé do Monte, e Silva ( que morreu tuberculoso), viva Carango, depois Afonso Bandejão. 

Com Lucas, que fazia gols ao apagar das luzes, escrevo esta crônica.
Prossigo com Lauro, que ainda vive, com o meu herói e amigo Carlaile e seus gols de bicicleta, com Lero (depois Alvinho) e Nívio, que era de Santa Luzia, eu sigo em frente.
Não sou do PT, nem do PSDB, nem do PPS ou do PC do B.

Do PFL eu não sou.
Eu amanheço Lula e anoiteço Serra.
Fico indeciso em quem votar.
Só o Atlético é minha verdade.
Amo a moça loura.
Amo a morena.

A moça negra eu amo.
Mas a moça alvinegra é que mora no meu coração.
Já mudei de tudo neste mundo.

Mudei de cidade.
Mudei de partido político.
Mudei de religião e ao catolicismo voltei.
Já fui ateu e acreditava em Deus. Coisa de mineiro.
Mudei de casa.
Mudei de amor ( e a uma mulher morena voltei).
Eu só não mudei de time: faça sol ou faça chuva, anoiteça ou amanheça, na alegria e na dor, eu só não mudei de time.
O Atlético é meu café da manhã.
É o cigarro que não fumo.
É o sono que eu não durmo.
É minha insônia e minha canção.
É meu primeiro e meu último amor.
Eu sou como o atléticano.
Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento.

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