terça-feira, 20 de novembro de 2012

10| dezembro| 2001

O Atlético fica de fora da decisão do Campeonato Brasileiro de 2001. O time, que precisava vencer, perde para o São Caetano por 2 a 1, de virada, em São Caetano do Sul. grande São Paulo. Foi o último jogo decisivo do clube comentado pelo cronista Roberto Drummond.

                                                  Quando um homem chora




-Pai- disse o menino atleticano de 11 anos, que se sentia um homem, vestindo uma camisa branca e preta, tentando conter o choro depois da vitória do São Caetano debaixo d'água.
- O que é, meu filho? - falou o pai, abraçado com uma bandeira atleticana, sentado num sofá diante a televisão.
-É verdade, pai, que homem que é homem não chora? - seguiu o menino e ficou de pé na sala.
-Bobagem, meu filho - e o pai tentou disfarçar o nó na garganta.-O homem de verdade chora até por causa de uma mulher.
- Você jura, pai?
- Juro, meu filho.
-E quando o Galo perde, pai, um homem chora?
-Chora, meu filho.
-Você já chorou por causa do Galo, pai? - insistiu o menino.
-Já meu filho.
-Chorou muitas vezes, pai?
-Muitas vezes, meu filho. Mas eu já cantei muitas vezes, meu filho. E vibrei e dancei na chuva. Por causa do Galo, meu filho, eu já chorei até de alegria.
-Chorar de alegria não vale, pai.
-É a mesma coisa, meu filho.
-Não é não, pai.
-Dá na mesma, meu filho.
-Quando eu era um menininho, eu chorava por qualquer coisa pai.
-Você ainda é menininho, filho.
-Eu sou um homem, pai. Lembra quando eu fiz 11 anos, pai?
-Lembro meu filho. Foi outro dia mesmo.
-Mas desde que eu fiz 11 anos pai, eu nunca mais chorei. Lembra quando eu fiquei apaixonado por minha professora de matemática, pai?
-Nunca vou me esquecer, filho. Você não falava em outra coisa.
-Naquela época, pai, eu chorava porque só tinha 10 anos. Mas, se fosse hoje, e minha professora de matemática ficasse noiva de outro, eu não ia chorar porque sou um homem.
-Eu entendo, meu filho.
-Mas agora, pai, eu sou um homem e não vou chorar porque eu sou um homem e eu não quero que nenhum garoto cruzeirense diga que me viu chorando porque o Galo perdeu pro São Caetano.
-Mas não tem nenhum menino cruzeirense aqui se você chorar, meu filho, ninguém vai saber.
-Deus vai saber, pai.
-Deus sabe tudo e vê tudo, meu filho.
-Pai -falou o menino com um nó na garganta e a ponto de cair em prantos -, Deus é atleticano, pai?
-Deus está muito ocupado, meu filho, com as guerras pra se preocupar com futebol.
-Eu pensava, pai, que Deus fosse atleticano. Uma vez, pai, eu fui numa missa, e o padre disse que Deus é atleticano.
-Deus torce por todos os times, porque não fica bem para Deus tomar um partido nem nas guerras nem no futebol. Se dependesse de Deus, meu filho, judeus e palestinos iam se abraçar como irmãos e acabar a matança no oriente Médio.
-Me abraça, pai - pediu o menino.
O pai abraçou o menino, enquanto os foguetes que os cruzeirenses soltavam para comemorar a derrota do Galo explodiam, e os carros fazendo buzinaço passavam na rua. Então, pai e filho começaram a chorar até o ponto que o menino atleticano chegou à janela do apartamento e gritou, abafando os foguetes e o buzinaço dos cruzeirenses.
- Gaaaaaaaalôôôôôô!

Texto retirado do livro "Uma paixão em preto e branco" de Roberto Drummond.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Renova R49

Por: Fred Melo Paiva



R49, meu filho, o que eu posso lhe dizer é o seguinte: renove. Você tem pelo menos sete razões pra fazer isso. Ei-las:

1– O Atlético é o clube mais amado do mundo. Não é o mais rico, não é o mais vitorioso. Mas a devoção da sua torcida não tem igual – é algo que transcende o futebol, o esporte e as coisas palpáveis da vida. O Fluminense tem Fred (e a CBF). O Santos tem Neymar (e as neymarzetes). Mas o Atlético tem a torcida do Atlético, e isso vale duas dúzias de Neymar, uma centena de Fred e um quatrilhão de José Maria Marin. O Atlético, Ronaldinho, não é um time de futebol – seria uma religião. Em outros clubes você pode ser ídolo. Você foi ídolo no Grêmio, no Paris Saint-Germain, no Barcelona, no Milan, até no Flamengo. Um ídolo no Atlético não é ídolo, é Deus.

2– O atleticano te acolheu quando você mais precisou. Deus não é amor? Foi isso que o atleticano lhe deu – a você e também à dona Miguelina. Você pode ir embora se quiser. Terá cumprido seu contrato com honestidade, honrado a camisa e enchido de orgulho o atleticano. Em seis meses, tão pouco tempo, você nos fez chorar tantas vezes – no gol contra o Cruzeiro, no passe para a cabeçada do Leonardo Silva. Choramos com você a morte do seu padrasto naquele gol contra o Figueirense. Você tem todo o direito de aceitar a melhor proposta financeira. Você veio da favela. É negro, foi pobre, não consertou os dentes – o biótipo da população excluída da festa e exterminada pela polícia. Só você sabe onde o calo aperta. Mas, olha, Ronaldinho, humildemente digo que a vida está lhe dando uma oportunidade de fazer diferente. Não é só com o dinheiro que a gente paga certas contas.

3 – É muito arriscado sair do Atlético. Se fosse do Cruzeiro, tudo bem. O problema do Galo é que, uma vez saído, você descobre que se tornou atleticano – e nisso está embutida a doença, porque todo atleticano é um atleticano doente. Você vai começar lendo umas notícias pra saber como estão os antigos companheiros. E vai terminar ouvindo até jogo-treino pelo radinho de pilha. Eu não sei, Ronaldinho, se você já deu um pé na mulher da sua vida em favor de uma buzanfa mais bem desenhada. Vou lhe falar: depois dá uma vontade de voltar, viu... É esse sentimento que acomete o sujeito quando ele sai do Galo. Dá uma falada com o Tardelli antes de bater o seu martelo.

4 – Ronaldinho, você precisa jogar no Mineirão. Você pode ter feito chover no Camp Nou, mas o Mineirão lotado cantando a sua música num jogo de Libertadores, com aquele pessoal subindo e descendo os braços, vou lhe falar: Camp Nou vai ficar é pequeno.

5– O Galo vai ser campeão. Com a estrutura que tem, o planejamento que está feito, o time que montou e será reforçado, nos próximos dois anos o Atlético leva um campeonato nacional ou uma Libertadores. Ninguém segura.

6 – No Galo, você vai voltar à Seleção e jogar a Copa. Porque aqui você tem ambiente, projeto e time para brilhar.

7- E, pra não dizer que não falei das flores, ainda tem as mineiras, com esse sotaquezinho que você já sabe. Que seja por elas. Renove, R49, que você acaba arrumando até uma esposa.





Lembrando que esse texto foi tirado da coluna do Fred Melo Paiva no Super Esportes.